sexta-feira, 11 de março de 2011

O Mundo Anda Tão Complicado...

O mundo do São Bento, então... onde a gente parou? Sim, perdemos de "revirada" em casa para o São José e pelo menos a sensação que ficou foi a de que uma derrota honrosa nos devolveria ao menos a esperança de escapar da terceira divisão, correto?

Bom, aí os jogadores entraram em greve. Não, antes disso, o Steve, camaronês que era seguramente o nosso jogador com maior intimidade junto ao ofício de jogar futebol, se desligou. Largou mão, esse negócio de não receber salário, ser despejado e de vez em quando não ter nem comida, pesou. Né? Aí os jogadores entraram em greve e, rien l'argent, era WO contra o Cavanhaquense e isso significaria cair para a vigésima segunda divisão ou algo do tipo. Aí o presidente fez umas promessas, a torcida foi lá pedir e os caras voltaram de Santa Bárbara com um empate heroico, gerando expectativas para o que seria o Dérbi da Humilhação!

Não tanto a humilhação em virtude da quilométrica discrepância técnica entre as duas equipes, o jogo esteve até equilibrado e perdemos um pênalti quando perdíamos por 1x0, a coisa poderia ser diferente, mas não foi. Perdemos e fomos humilhados, vejamos:

#Humilhação 1: Acho que não temos médico. Sim, pois em todos os momentos em que um jogador nosso caía, ia um cara do Atlético Sorocaba junto, e eu presumo que seja um médico. Mas vem cá, um time que não paga salário, não tem onde treinar, falta bola (no sentido literal), seria mesmo HUMILHAÇÃO não ter um médico? Isso me lembra a época em que o Atlético-GO, muito mal das pernas, viu um jogador ir embora reclamando que no clube não tinha nem sabonete pra eles tomarem banho e o presidente, indignado, falou que o jogador estava "conversando fiado", pois o que ele tem que reclamar de sabonete, sendo que a água está cortada há dois meses?

# Humilhação 2: Intervalo de jogo, perdendo de 1x0, uma meia dúzia de membros da torcida organizada que não é a principal, vai até a mureta da arquibancada e começa a entoar cânticos de guerra, sangue, morte, contra o adversário... e eles fazem isso com tamanho prazer, que me faz sentir uma vergonha alheia insuportável! Primeiro porque eu já acho de uma estupidez siderúrgica esse negócio de guerrinha entre torcidas organizadas, odeio TODAS que se dedicam a isso, sem exceção. Segundo, concordo integralmente com o Fefas sobre essa necessidade de criar uma rivalidade sem nexo com esse time aí do Reverendo, que, pelo baruio da charrete, daqui uns dias pode muito bem se chamar Atlético Pindamonhangaba e tá tudo certo. A relevância desse outro time ser de Sorocaba é a mesma que a Bruna Surfistinha também ser daqui, altera nada no contexto.

# Humilhação 3: Finzinho de jogo, perdendo de 2x0, mais uma vez dois jogadores expulsos, e o adversário, nitidamente, fica com dó. A torcida, afinzona de tripudiar e chutar cachorro morto com os gritos de OLÉ, e os jogadores do Reverendo na manha, sem machucar. Me lembrou muito o bordão de bandido que é preso e pede pro delegado "Dr., por favor, não esculacha", que na gíria deles, significa não abusar no lance de dar porrada, ou dar porrada em lugar indevido, enfim, não esculachar. Ficou quase nítido que os nossos pobres jogadores estampavam na cara um "não esculacha" que acabou comovendo os atleticanos, mas não sei, acho que no cômputo geral, essa dózinha acabou sendo pior, viu?

# Humilhação Master: Encontro o William, do "Vamos Subir Bento" e ele diz que o importante foi a missão cumprida, 59 mil de renda, ia dar pra pagar o salário dos jogadores... quer dizer, no fundo, nós fomos para o jogo como se fosse o cadafalso, sabendo que o pior nos aguardava! Quer dizer, quem, em sã consciência, poderia imaginar que o resultado seria diferente? Fomos lá dar a nossa contribuição para o time não acabar imediatamente, recebendo em troca um instantâneo da nossa inferioridade!

Eu ouço falar no São Bento desde que me entendo por gente, devido à minha ligação familiar com a cidade, e sou do tempo em que ocasionalmente o São Bento aparecia nos Gols do Fantástico, pois era figura obrigatória na primeira divisão paulista. Demorei pra me envolver com o time depois que me mudei pra cá, mas não quero perder isso. Depois do jogo, descendo aquela rua do estádio com o Duda no meu cangote, pensei que quero isso pra sempre, ou enquanto o Duda quiser, pelo menos. Confesso que jamais me importarei com os resultados, a qualidade do time ou a divisão que disputa, mas o que me preocupa hoje é que vejo um fim para esse time de tanta tradição...

Curioso, na segunda feira veio um casal em casa e falei pro cara que estava levando o Duda nos jogos do São Bento, íamos em todos! Ele achou massa e perguntou para o meu co-cunhado se ele também ia, a resposta: "Eu até fui nos dois primeiros jogos, mas o time é muito ruim, não dá ânimo pra ir"... quem haverá de criticá-lo? Eu, até com uma polidez incomum, disse que isso era um espírito próprio de sãopaulino que o palmeirense não pode se dar ao luxo de ter, pois se for esperar um time bom pra acompanhar, vai ficar muito tempo tendo que arrumar outra coisa pra fazer. Mas aí, depois do dérbi, vendo o meu desolamento, esse mesmo co-cunhado me disse que não entendia como Sorocaba, com um monte de empresas, não conseguisse uma pra "abraçar" o São Bento... na hora, pensei em dizer que o motivo das empresas deve ser o mesmo dele pra não abraçar o São Bento: "Ah, o time é muito ruim"...

Eu, aqui, não estou querendo criticar ninguém especificamente, e sim, o comportamento modinha de só ir na boa. Sim, todo mundo tem seus afazeres e eu, um ano atrás, não poderia sequer lembrar que o São Bento existia, dada a minha carga horária exótica de trabalho, mas mesmo assim, vejo um envolvimento quase nulo das pessoas com o time. Procuro me sentar sempre no mesmo lugar do estádio, não por superstição, mas por atavismo mesmo, imagino que um dia ainda criarei um ambiente de estádio como o que eu tinha nas cadeiras amarelas do Serra Dourada, mas o que vejo, ao contrário, é uma turma nova a cada jogo. Gente que se denuncia achando que o Lucas Biselli é bom, pois esse é um autêntico jogador "Quase". As jogadas dele QUASE dão em alguma coisa, sempre! E esse pessoal normalmente sai jurando não voltar enquanto o time estiver ruim desse jeito... estão errados?

Agora ficou muito nítido que o nosso papel até o fim do campeonato será brigar pra não cair e ouvi do próprio Presidente do time, na academia, que faltam só 4 pontos para nos livrarmos de vez do rebaixamento. Mas, independente de estarmos na segunda ou terceira divisão no ano que vem, não tenho muita certeza se existiremos até lá. Enquanto isso, vamos torcer, que é a parte que nos cabe nesse latifúndio!

Um comentário:

Riccardo Joss disse...

Senti saudades do lugar em que eu sentava, sempre sozinho, no Parque Antártica nos anos que morei em São Paulo. Sofri muito naquela arquibancada fria, debaixo de chuva. Não me arrependo de nada, nem de ter ido naquele 6 x 2 do Fluminense.